DEDICADO AO PATRIARCHA S. IOSEP. PELO... da Companhia de JESU da Provincia do Brazil. EVORA. Na Officina da Unversidade. Anno M. DCC. XXXV. [1735]. Com todas as liçenças necessarias.

De 20,5x13,5 cm. Com xiv, 319 págs. Encadernação da época inteira de pele; com nervos, rótulo vermelho e ferros a ouro na lombada. Cortes das folhas levemente carminados.

Bela impressão muito nítida em caracteres redondos e alguns itálicos sobre papel de linho muito sonante. Está ornamentada com cabeções com motivos vegetalistas e antropomórficos, nas folhas preliminares e no início das quatro partes da obra, quase sempre seguidos de iniciais decoradas. O fim da primeira parte e diversas partes do texto onde terminam os documentos que integram o texto estão ornamentados com florões de remate constituídos por composições com motivos vegetalistas, cornucópias, jarras e cestos com flores.

Exemplar com alguns picos de traça à cabeça e no pé da lombada onde tem falta de pele e com pequena falha de papel no canto inferior das páginas 293 e 294. A paginação do presente exemplar coincide com as que são apresentadas por Inocêncio e por José dos Santos. No entanto outros bibliógrafos apresentam paginações diferentes, que poderão ser eventualmente variantes.

Segunda edição eborense, muito rara, saída dos prelos da famosa Universidade da Companhia de Jesus da mesma cidade. A primeira edição foi publicada, também em Évora, pelo mesmo impressor, no ano de 1678. No ano de 1714, em Roma, foi publicada uma tradução em italiano feita pelo Padre Antonio Maria Bonucci.

A Escola de Belém é um exemplo cimeiro do discurso barroco, com passos similares ao brilhantismo dos sermões dos grandes oradores da época, em que o texto flui e estrutura de forma lógica e incisiva, com o objectivo de persuadir os leitores através da beleza do estilo literário e do deleite que provoca. O autor recorre mesmo a uma vertente especialmente lúdica, com o uso de analogias que provocam o sorriso, resultante da sua experiência de professor e usa palavras da língua indígena como Tejupar, palavra que designa o Presépio em tupi.

Um dos seus aspectos fundamentais é a omnipresença da metáfora, figura maior da conceptualização barroca, multiplicando-se em analogias soberbamente desenvolvidas.

Esta notável obra, que é um clássico da literatura portuguesa, insere-se na vasta produção literária da Companhia de Jesus destinada ajudar os religiosos e os leigos a seguir os ensinamentos da Igreja e a atingir um estado de cada vez maior perfeição e união com Deus pela leitura, meditação e oração.

Usualmente o método seguido é o de meditar sobre qualquer passo da vida de Cristo ou da Virgem Maria. A presente obra é muito pouco comum e original, pois como o próprio autor sublinha no prólogo, enquanto a maioria dos escritores escolhe meditar e explicar os Mistérios da Morte e Paixão de Cristo, Alexandre de Gusmão escolheu o nascimento de Cristo e a humildade do Menino Jesus para base das suas meditações.

O autor, na primeira parte, começa por descrever o Presépio como uma escola onde os cristãos podem aprender a seguir o caminho da vida espiritual e explica as suas três vias nas restantes três partes que constituem o livro, ou seja: a Via da purificação, na parte segunda, a via da iluminação na parte terceira e a via da união ou via unitiva na parte quarta, na qual a alma dos fiéis entra em perfeita união com Deus.

ALEXANDRE DE GUSMÃO (Lisboa 1629 - Cachoeira, Baía 15 de Março de 1724) Entrou para a Companhia de Jesus, em 28 de Outubro de 1646 e é um dos mais notáveis membros da Companhia a par do Padre António Vieira, com quem entrou em polémica, pois divergiu dele nalgumas questões relativas à catequização dos índios o que lhe valeu severas críticas do grande orador e missionário. A mais destacada característica do Padre Alexandre de Gusmão foram a suas elevadas qualidades pedagógicas e o seu amor ao ensino, que exerceu durante toda a vida. O Padre Serafim Leite considerou-o o maior pedagogo do Brasil colonial. Também era notável pela humildade, pureza e total dedicação ao trabalho até quase à exaustão, estando a ser preparado o seu processo de canonização, que ficou suspenso, quando a Companhia de Jesus foi expulsa do Brasil, em 1759.

Na sua extensa vida de noventa e quatro anos distingue-se um primeiro período em que, apesar de já se dedicar continuamente ao ensino e evangelização, desempenhou ao mesmo tempo altos cargos no governo da Província da Companhia de Jesus no Brasil. O segundo período, marcado pela fundação do Colégio da Cachoeira, que se descreve mais abaixo, e que no início se conjuga ainda com as funções de governo, foi dedicado a uma intensa acção pedagógica de ensino e evangelização com a fundação de colégios, a pregação (foi também um pregador notável) o exercício de funções docentes e a escrita de livros destinados ao ensino da doutrina da Igreja Católica a religiosos e leigos de todas as raças, segundo os métodos da Companhia de Jesus.

O elevado nível pedagógico com que exerceu as suas funções de professor fica patente no caso dos irmãos Gusmão, que adoptaram o apelido por terem sido apadrinhados por ele e depois foram seus alunos, no colégio da Cachoeira, perto da Baía, e que se tornaram personagens notáveis da História de Portugal. O mais velho, Bartolomeu de Gusmão (Santos 1685 - Sevilha 1724) diplomata e Académico da Academia Real de História a quem se atribui o invento dos balões aerostáticos, e o mais novo, Alexandre de Gusmão (Santos 1695 - Lisboa 1753) Secretário particular de D. João V e célebre diplomata e escritor, que foi responsável pela negociação com a Espanha do tratado de demarcação das fronteiras do Brasil.

Alexandre de Gusmão foi ordenado sacerdote, em 2 de Dezembro de 1658 e já era mestre de noviços desde 7 de Julho de 1654, no Colégio do Rio de Janeiro. De 7 de Março de 1663 a 12 de Julho de 1665 e de 15 de Abril de 1666 a 5 de Junho de 1667, foi Vice-Reitor e depois Reitor do Colégio de S. Miguel, na cidade de Santos, de 9 de Março de 1669 a 26 de Junho de 1670 foi Reitor do Colégio do Espírito Santo. Consolidando a sua carreira na estrutura hierárquica da província de 13 de Novembro de 1676 a 15 de Agosto de 1679 foi secretário do Padre José de Seixas, Provincial de 1675 a 1681. De 5 de Agosto de 1681 a 1684 foi Reitor do Colégio da Baía, a principal instituição de ensino do Brasil. Culminando a sua ascensão na hierarquia da Província do Brasil da Companhia de Jesus exerceu as funções de provincial de 1684 a 15 de Maio de 1688 e novamente de 7 de Julho de 1693 a 2 de Dezembro de 1697.

Durante o seu primeiro mandato como Provincial, em 13 de Abril de 1687, tinha fundado o Seminário de Belém, na Vila de Nossa Senhora do Rosário, na Cachoeira, projecto pedagógico de excelência, para a evangelização e o ensino a que dedicaria todas as suas forças e onde seria até ao fim da vida professor e por diversas vezes seu Reitor, nomeadamente de 1698-1699, 1715-1716 e Vice-reitor de 1716 a 1717.

 20.5x13.5 cm. xiv, 319 pages. Contemporary full leather binding; with raised bands, red label and gilt tools on spine. Light red edges.

Beautiful, very clear printing in round characters and some italics on very sound linen paper. Decorated with headpieces with plant and anthropomorphic motifs on the preliminary pages and at the beginning of the four parts of the work, almost always followed by decorated initials. The end of the first part and various parts of the texto, where the documents that make up the text end, are decorated with finishing fleurons made up of compositions with plant motifs, cornucopias, vases and baskets of flowers.

Copy with a few moth holes at the head and foot of the spine where there is some loss of leather and a small paper flaw in the bottom corner of pages 293 and 294. The pagination of this copy coincides with those presented by Inocêncio and José dos Santos. However, other bibliographers present different paginations, which could possibly be variants.

Very rare second edition from Évora, from the print house of the famous University of the Society of Jesus in the same city. The first edition was published in Évora by the same printer in 1678. In 1714, an Italian translation was published in Rome by Father Antonio Maria Bonucci.

The Escola de Belém (School of Bethlehem) is a prime example of Baroque discourse, with steps similar to the brilliance of the sermons of the great orators of the time, in which the text flows and is structured logically and incisively, with the aim of persuading readers through the beauty of the literary style and the delight it provokes. The author even takes a particularly playful approach, using smile-inducing analogies from his experience as a teacher and using words from the indigenous language such as Tejupar, a word that designates the Nativity scene in Tupi language.

One of its fundamental aspects is the omnipresence of metaphor, a major figure in Baroque conceptualisation, multiplying itself in superbly developed analogies.

This remarkable work, which is a classic of Portuguese literature, is part of the vast literary production of the Society of Jesus aimed at helping religious and lay people to follow the teachings of the Church and to reach a state of ever greater perfection and union with God through reading, meditation and prayer.

Usually the followed method is to meditate on any step in the life of Christ or the Virgin Mary. This work is very unusual and original, because as the author himself emphasises in the prologue, while most writers choose to meditate on and explain the Mysteries of the Death and Passion of Christ, Alexandre de Gusmão chose the birth of Christ and the humility of the Child Jesus as the basis for his meditations.

In the first part, the author begins by describing the Nativity scene as a school where Christians can learn to follow the path of the spiritual life and explains its three ways in the remaining three parts of the book: the Way of Purification in the second part, the Way of Illumination in the third part and the Way of Union or Unitive Way in the fourth part, in which the soul of the faithful enters into perfect union with God.

ALEXANDRE DE GUSMÃO (Lisbon 1629 - Cachoeira, Bahia 15 March 1724). Joined the Society of Jesus on 28 October 1646 and was one of the most notable members of the Society alongside Father António Vieira, with whom he entered into controversy, as he differed with him on some issues relating to the catechisation of the Indians, which earned him severe criticism from the great orator and missionary. Father Alexandre de Gusmão"s most outstanding characteristic was his high pedagogical qualities and his love of teaching, which he exercised throughout his life. Father Serafim Leite considered him the greatest pedagogue of colonial Brazil. He was also notable for his humility, purity and total dedication to work to the point of exhaustion, and his canonisation process was being prepared, which was suspended when the Society of Jesus was expelled from Brazil in 1759.

In his long life of ninety-four years, we can distinguish a first period in which, despite already dedicating himself continuously to teaching and evangelisation, he also held high positions in the government of the Province of the Society of Jesus in Brazil. The second period, marked by the founding of the College of Cachoeira, which is described below, and which at the beginning was still combined with his government duties, was dedicated to intense pedagogical teaching and evangelisation with the founding of colleges, preaching (he was also a notable preacher), teaching and the writing of books aimed at teaching the doctrine of the Catholic Church to religious and lay people of all races, according to the methods of the Society of Jesus.

The high pedagogical level with which he carried out his teaching duties is evident in the case of the Gusmão brothers, who adopted the surname because they were sponsored by him and were later his pupils at the Cachoeira college near Baía, and who became notable figures in Portuguese history. The eldest, Bartolomeu de Gusmão (Santos 1685 - Seville 1724) diplomat and Academician of the Royal Academy of History, who is credited with inventing aerostatic balloons, and the youngest, Alexandre de Gusmão (Santos 1695 - Lisbon 1753) private secretary to King João V and famous diplomat and writer, who was responsible for negotiating the treaty with Spain to demarcate Brazil"s borders.

Alexandre de Gusmão was ordained priest on 2 December 1658 and was already master of novices on 7 July 1654 at the College of Rio de Janeiro. From 7 March 1663 to 12 July 1665 and from 15 April 1666 to 5 June 1667, he was Vice-Rector and then Rector of the Colégio de S. Miguel in the city of Santos. From 9 March 1669 to 26 June 1670, he was Rector of the Colégio do Espírito Santo. Consolidating his career in the hierarchical structure of the province, from 13 November 1676 to 15 August 1679 he was secretary to Father José de Seixas, Provincial from 1675 to 1681. From 5 August 1681 to 1684 he was Rector of the Colégio da Bahia, the main educational institution in Brazil. Culminating his rise in the hierarchy of the Brazilian Province of the Society of Jesus, he served as provincial from 1684 to 15 May 1688 and again from 7 July 1693 to 2 December 1697.

During his first term as Provincial, on 13 April 1687, he founded the Belém Seminary, in the town of Nossa Senhora do Rosário, in Cachoeira, a pedagogical project of excellence, for evangelisation and teaching, to which he would dedicate all his strength and where he would be a professor until the end of his life and several times its Rector, namely from 1698-1699, 1715-1716 and Vice-Rector from 1716 to 1717.

Referências/References:

César Augusto Martins Miranda de Freitas. Alexandre de Gusmão: da Literatura Jesuítica de Intervenção Social. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 2011. Tese de doutoramento.
Sara Augusto. Escola de Bethlem: amor e pedagogia, Via Spiritus, Revista de História da Espiritualidade e do Sentimento Religioso, Porto: CITCEM, 17, 2010. p. 109-132.
José dos Santos. Arquivo Bibliográfico da Livraria Lusitana. Porto. 1915. Nº 539-A.
Inocêncio I, 32. 175.
Sommervogel, 3 1960.
Leite, S. Hist. da Comp. de Jesus no Brasil 8, 290.
Borba de Moraes. Bibliogr. Bras. 1, 383.
BNP: [16], 321, [5] p.; 4o (21 cm).
Barbosa Machado I, 95-97.