De Francisco Fernandez Galuão Doutor na sagrada Theologia, & Arcediago da Villa noua de Cerueira no Arcebispado de Braga. Dirigidos a Senhora Dona Caterina Senhora dos Estados de Bragança. Tirados de seus originaes & ordenados pelo Licenciado Amador Vieira Prior de Santiago de Trauanca no Bispado de Coimbra Com licença do Santo Officio, Ordinario. & Paço. EM LISBOA. Por Pedro Crasbeeck. Anno 1619.

In 4.º de 19,5x15,5 cm. Com [vi], 330 folhas. Encadernação da época em pergaminho flexível, com uma versão latinizada e abreviada do título escrita a tinta sobre a lombada.

Folha de rosto enquadrada por uma bela moldura constituída por dois filetes simples preenchidos com pequenas vinhetas com motivos tipográficos. Apresenta uma notável xilogravura com o escudo das armas de Dona Catarina de Bragança. Na última folha numerada tem, a rematar a obra, uma xilogravura com um escudo circundado pelo lema «Invidia quid humilitate».

Impressão em caracteres redondos, com alguns itálicos, com o texto corrido nos textos preliminares e disposto em duas colunas nos sermões, ornamentado com diversas iniciais decoradas, florões de remate e um cabeção.

Exemplar com falta da guarda posterior e de 21 folhas não numeradas no final, que conteriam um índice remissivo de referências às sagradas escrituras. Ex-libris de Augusto Guimarães Amora na folha de guarda anterior e assinaturas de posse de António Lopes Craveiro na guarda anterior e na folha de rosto. Esta apresenta ainda outras duas assinaturas coevas, uma delas rasurada, assim como um carimbo oleográfico de posse, também rasurado. Vários sublinhados a tinta ao longo do texto. Apresenta picos de traça ao longo de todo o miolo, atingindo várias vezes a mancha tipográfica, sem nunca impedir a leitura; manchas de humidade junto ao corte das folhas na margem lateral; rasgo com falta do canto da folha 283, sem afetar o texto.

A folha 11 está numerada 9; a 12-20; a 13-11; a 14-22; a 59-54; a 210-201; a 236-237; a 238-239.

Primeiras folhas não numeradas com privilégio real, dedicatória do organizador Amador Vieira a Dona Catarina de Bragança, prólogo ao leitor e índice de capítulos.

Terceira edição muito rara. A primeira saiu em 1613 pelo mesmo impressor e a segunda em Sevilha em 1615. Apenas são conhecidos dois exemplares em bibliotecas públicas, um na Biblioteca Nacional de Portugal e outra na Folger Shakespeare Library, em Washington D.C.

Obra importante para o estudo da retórica religiosa, da cultura e das práticas litúrgicas da época, além de refletir a língua e os valores sociais de Portugal durante o período barroco.

No título à cabeça do primeiro fólio numerado lê-se: «Segunda parte dos sermões, o que indica que esta obra seria uma continuação dos «Sermões do Doutor Francisco Fernandes Galvam, Arcediago de Cerveira no Arcebispado de Braga», também organizada por Amador Vieira e publicada pelo mesmo editor em 1611. Foi ainda publicada uma terceira parte intitulada: «Sermões das Festas de Christo Nosso Senhor» e publicada em 1616.

Esta é uma obra de significativa relevância na literatura portuguesa. Reúne 64 sermões que seriam proferidos durante as celebrações litúrgicas em honra dos santos, visando inspirar a devoção e transmitir ensinamentos morais e espirituais aos fiéis. Encontram-se organizados por meses, começando pela festa de S. Gonçalo.

Segundo Bell, Galvão foi um dos mais notáveis pregadores do seu tempo, sucedendo Frei Tomé de Jesus. A sua prosa nos Sermões é descrita como admiravelmente contida e pura. Inocêncio comenta que estes sermões são muito estimados, considerando Galvão como um dos melhores teólogos e pregadores da sua época. A obra é elogiada pela sua doutrina sólida, exposta em estilo conveniente e linguagem pura, correcta e abundante.

Referências importantes mencionam a obra e o autor, incluindo Arouca, Barbosa Machado, Pinto de Mattos, e outros estudiosos que destacam a importância de Galvão na literatura e retórica portuguesas.

Francisco Fernandes Galvão (Lisboa, 1554 - Lisboa, 1610), criado sob a tutela de Dona Isabel, demonstrou grande aptidão académica desde cedo. Estudou no Colégio dos Padres da Companhia de Jesus em Évora, onde completou os cursos de artes, antes de se transferir para a Universidade de Coimbra. Ali, graduou-se Mestre em Artes e prosseguiu os estudos em Sagrada Teologia. Aos 25 anos, obteve o grau de Doutor e logo se destacou como substituto em várias cadeiras de Teologia e Escrituras, ganhando grande respeito e atenção pela sua erudição e clareza.

A sua carreira como pregador começou cedo, com apenas 23 anos, realizando o seu primeiro sermão na Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, em Lisboa. A sua reputação cresceu rapidamente, o que lhe rendeu a oportunidade de viajar a Roma em 1585. Lá, foi nomeado pelo Papa Sixto V para importantes cargos eclesiásticos, incluindo o cânone de Coimbra e o Priorado de Cedofeita. Durante a sua estada em Roma, Fernandes Galvão participou em significativas congregações e foi amplamente reconhecido pela sua eloquência e profundidade teológica, chegando a ser comparado a grandes oradores religiosos da época.

De volta a Portugal em 1590, Francisco Fernandes Galvão continuou a sua obra pastoral e educativa, pregando em várias cidades e ganhando destaque tanto em Portugal quanto na corte espanhola. Ocupou o Arcediagado de Vila Nova de Cerveira, onde demonstrou um zelo pastoral exemplar, visitando igrejas e pregando com o objetivo de reformar costumes e promover a devoção entre os fiéis. A sua pregação era conhecida por ser rigorosa e bem fundamentada, evitando palavras levianas e focando na conversão e edificação espiritual.

Fernandes Galvão foi também um homem de grande caridade, ajudando os pobres com generosas esmolas e mantendo sempre uma vida de modéstia e humildade. Reconhecido como um dos grandes pregadores da sua época, deixou um legado significativo através dos seus sermões e escritos, que foram traduzidos para várias línguas e serviram como inspiração e guia para muitos. Faleceu em Lisboa, a 15 de março de 1610, deixando uma marca indelével na história religiosa de Portugal e sendo amplamente lamentado por todos os que o conheceram.

Os manuscritos de Galvão, incluindo os «Sermões das Festas dos Santos», foram deixados a Amador Vieira, Prior de Santiago de Travanca no Bispado de Coimbra, membro de longa data da sua casa, com permissão para publicá-los.

 In quarto. 19.5x15.5 cm. [vi], 330 leaves. Contemporary binding in flexible parchment, with a Latinised and abbreviated version of the title handwritten on the spine.

The title page is framed by a beautiful border made up of two simple fillets filled with small vignettes with typographic motifs. It features a remarkable woodcut engraving with the coat-of-arms of Dona Catarina de Bragança. On the last numbered leaf, there is a woodcut engraving of a shield surrounded by the motto 'Invidia quid humilitate'.

Printed in round characters, with some italics, with contínuos body texto in the preliminary texts and arranged in two columns in the sermons, decorated with various decorated initials, finishing fleurons and a headpiece.

Copy missing the rear endpaper and 21 unnumbered leaves at the end, which would have contained a remissive index of references to the sacred scriptures. Ex-libris from Augusto Guimarães Amora on the front endpaper and handwritten ownership titles from António Lopes Craveiro on the front flyleaf and title page. The latter also bears two other coeval signatures, one of them erased, as well as an oleographic ownership stamp, also erased. Several underlines in ink throughout the text. There are moth peaks throughout the core, several times reaching the text area, but never preventing reading; damp stains near the edges on the side margin; a missing corner of leaf 283, without affecting the text.

Sheet 11 is numbered 9; 12-20; 13-11; 14-22; 59-54; 210-201; 236-237; 238-239.

Unnumbered first pages with royal privilege, dedication from the organiser Amador Vieira to Dona Catarina de Bragança, prologue to the reader and chapter index.

Very rare third edition. The first came out in 1613 by the same printer and the second in Seville in 1615. Only two copies are known to exist in public libraries, one in the National Library of Portugal and the other in the Folger Shakespeare Library in Washington D.C.

Important work for the study of the religious rhetoric, culture and liturgical practices of the time, as well as reflecting the language and social values of Portugal during the Baroque period.

The title at the head of the first numbered folio reads: 'Segunda parte dos sermões', which indicates that this work was a continuation of the 'Sermões do Doutor Francisco Fernandes Galvam, Arcediago de Cerveira no Arcebispado de Braga', also organised by Amador Vieira and published by the same publisher in 1611. A third part entitled 'Sermões das Festas de Christo Nosso Senhor' was also published in 1616.

This is a work of significant importance in Portuguese literature. It brings together 64 sermons that would be delivered during liturgical celebrations in honour of the saints, with the aim of inspiring devotion and transmitting moral and spiritual teachings to the faithful. They are organised by month, starting with the feast of St Gonçalo.

According to Bell, Galvão was one of the most remarkable preachers of his time, succeeding Friar Tomé de Jesus. His prose in the Sermões is described as admirably restrained and pure. Innocent comments that these sermons are highly esteemed, considering Galvão to be one of the best theologians and preachers of his time. The work is praised for its solid doctrine, expounded in a convenient style and pure, correct and abundant language.

Important references mention the work and the author, including Arouca, Barbosa Machado, Pinto de Mattos, and other scholars who emphasise Galvão"s importance in Portuguese literature and rhetoric.

Francisco Fernandes Galvão (Lisbon, 1554 - Lisbon, 1610), raised under the tutelage of Dona Isabel, showed great academic aptitude from an early age. He studied at the College of the Fathers of the Society of Jesus in Évora, where he completed his arts studies, before transferring to the University of Coimbra. There, he graduated as Master of Arts and continued his studies in Sacred Theology. At the age of 25, he was awarded a doctorate and soon made a name for himself as a substitute lecturer in various subjects of theology and Scripture, earning great respect and attention for his erudition and clarity.

His career as a preacher began early, aged just 23, when he gave his first sermon at the Church of Our Lady of the Martyrs in Lisbon. His reputation grew rapidly, earning him the opportunity to travel to Rome in 1585. There, he was appointed by Pope Sixtus V to important ecclesiastical posts, including the canon of Coimbra and the priory of Cedofeita. During his stay in Rome, Fernandes Galvão took part in significant congregations and was widely recognised for his eloquence and theological depth, coming to be compared to the great religious orators of the time.

Back in Portugal in 1590, Francisco Fernandes Galvão continued his pastoral and educational work, preaching in various cities and gaining prominence both in Portugal and at the Spanish court. He occupied the Archdeaconry of Vila Nova de Cerveira, where he showed exemplary pastoral zeal, visiting churches and preaching with the aim of reforming customs and promoting devotion among the faithful. His preaching was known for being rigorous and well-founded, avoiding frivolous words and focusing on conversion and spiritual edification.

Fernandes Galvão was also a man of great charity, helping the poor with generous alms and always maintaining a life of modesty and humility. Recognised as one of the great preachers of his time, he left a significant legacy through his sermons and writings, which were translated into several languages and served as an inspiration and guide for many. He died in Lisbon on 15 March 1610, leaving an indelible mark on Portugal"s religious history and being widely mourned by all who knew him.

Galvão"s manuscripts, including the 'Sermões das Festas dos Santos', were left to Amador Vieira, Prior of Santiago de Travanca in the Bishopric of Coimbra, a long-standing member of his household, with permission to publish them.

Referências/References:
Porbase, 3116409.
Iberian Books B70202 [42625]
USTC, no. 5024289
Inocêncio II, 374, 728.
Bell, Portuguese Literature p. 244.
Pinto de Matos 282-3
Sabugosa 18
Condessa de Azambuja 905
Monteverde 2292
Arouca G 9
Barbosa Machado I, 124; II, 144-5.