ácerca da topographia, clima, e demais particularidades, que influem no caracter das febres do Rio de Janeiro. Por FRANCISCO DE MELLO FRANCO, Commendador da Ordem de Christo, Medico da Camara Real, e Socio da Academia Real das Siencias de Lisboa. LISBOA NA TYPOGRAFIA DA MESMA ACADEMIA. 1829. Com licença de SUA MAGESTADE.

In 8.º de 22x16 cm. Com [iii], [i em br.], 205, [vii] págs. Brochado. Ilustrado com gravura ao centro da folha de rosto.

Exemplar intonso e por abrir. Apresenta pequenos picos de traça desde a página 199 até ao final, sem condicionar a leitura.

Ensaio médico com reflexões e observações acerca do tratamento e caracterização de diferentes febres. De muito interesse para a história da medicina e do Rio de Janeiro.

1.ª Edição rara desta obra, a única publicada. Foi apresentada à Academia Real das Ciências em Julho de 1821 e só foi aprovada a sua publicação na sessão da Academia de 8 de Junho de 1827, cinco anos depois do falecimento do autor. Esta demora terá a ver com a situação política muito instável, que afectava o funcionamento das instituições, nomeadamente a reacção absolutista de 1823-1825 contra os liberais vintistas. A autorização para imprimir a obra só ocorreu no primeiro período de vigência da Carta Constitucional de 1826, que trouxe alguma acalmia política.

A obra surge, em parte, pelo desejo do autor em reunir o conhecimento e as práticas que adquiriu ao longo de mais de trinta e cinco anos de prática médica, a maioria destes na populosa cidade de Lisboa; mas também pela sua vontade em desmistificar as febres do Rio de Janeiro, que na época se supunha serem abundantes e muito contagiosas, com observações que coligiu após se fixar nesta cidade em 1817, em especial nas páginas 36 a 68. Aborda a complexidade e as contradições relacionadas ao tratamento das febres na prática médica, descrevendo casos que tratou, os respectivos tratamentos e o uso de vários tipos de medicamentos tais como quinino, arsénico e purgativos.

Francisco de Melo Franco (Paracatu, Minas Gerais, 1757 – Ubatuba, São Paulo, 22 de Julho de 1823), comendador da Ordem de Cristo, foi um médico português, formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, pioneiro no campo da puericultura e um dos mais importantes médicos na corte portuguesa da sua época autor de importantes obras no campoo da medicina e da poesia satírica.

Nascido em Minas Gerais, fez parte da elite brasileira que partiu para Portugal para estudar na Universidade de Coimbra, tendo cursado Medicina. Enquanto estudante foi condenado a cinco anos de reclusão no convento de Rilhafoles, em Lisboa pelo Tribunal da Inquisição, acusado de herege, naturalista e dogmático em auto de fé realizado em 1781. Desta sentença, como era hábito, só cumpriu um ano continuando os seus estudos em Coimbra de 1782 a 1786, fixando-se depois em Lisboa onde ganhou reputação de clínico notável. Foi nomeado médico honorário da Câmara Real e recebeu o foro de cavaleiro fidalgo. Tornou-se sócio-correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa, passando a colaborar regulamente com aquela instituição em matérias de medicina e ciências naturais.

Em 1817 mudou-se para o Brasil, tendo acompanhado a princesa-consorte Maria Leopoldina de Áustria na sua viagem para o Rio de Janeiro, e acabando por se fixar naquela cidade.

É autor de um conjunto de influentes obras no campo da medicina e da filosofia política, como, por exemplo: «Tratado da educação física dos meninos, para uso da nação portuguesa» primeiro livro sobre pediatria escrito em português e por um natural do Brasil; «Elementos de Higiene ou dictames theoreticos, e practicos para conservar a saude e prolongar a vida». Foi o secreto autor da polémica obra Medicina Theologica ou súplica humilde feita a todos os senhores Confessores e Directores sobre o modo de proceder com os seus penitentes na emenda dos peccados, principalmente da lascívia, cólera e bebedice (1794), onde o autor se apoia nas mais avançadas discussões médicas do seu tempo para demonstrar a ineficácia dos remédios morais aplicados pelos teólogos no combate aos pecados, elegendo o campo somático como a principal causa das paixões, razão pela qual a salvação da alma passaria a depender da saúde do corpo. É autor igualmente do poema satírico - O reino da estupidez, que circulou em manuscrito e só foi publicado depois da sua morte.

Para a data da morte seguimos a Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo V, 1843; Teófilo Braga e Inocêncio.

 In octavo. 22x16 cm. [iii], [i in bl.], 205, [vii] pp. Paperback. Illustrated with an engraving in the centre of the title page.

Uncut and unopened copy. There are small moth holes from page 199 to the end, without affecting the reading.

Medical essay with reflections and observations on the treatment and characterisation of different fevers. Of great interest to the history of medicine and Rio de Janeiro.

Rare 1st edition of this work, the only one published. It was presented to the Royal Academy of Sciences in July 1821 and was only approved for publication at the Academy"s session on 8 June 1827, five years after the author"s death. This delay had to do with the very unstable political situation, which affected the functioning of the institutions, particularly the absolutist reaction of 1823-1825 against the Vintist liberals. Authorisation to print the work only came during the first period of the Constitutional Charter of 1826, which brought some political tranquility.

The work arises partly from the author"s desire to bring together the knowledge and practices he acquired over more than thirty-five years of medical practice, most of them in the populous city of Lisbon; but also from his desire to demystify the fevers of Rio de Janeiro, which at the time were thought to be abundant and very contagious, with observations he collected after settling in that city in 1817, especially on pages 36 to 68. He addresses the complexity and contradictions related to the treatment of fevers in medical practice, describing the cases he treated, the respective treatments and the use of various types of medicines such as quinine, arsenic and purgatives.

Francisco de Melo Franco (Paracatu, Minas Gerais, 1757 - Ubatuba, São Paulo, 22 July 1823), Commander of the Order of Christ, was a Portuguese doctor, graduated in Medicine from the University of Coimbra, a pioneer in the field of childcare and one of the most important doctors in the Portuguese court of his time, author of important works in the field of medicine and satirical poetry.

Born in Minas Gerais, he was part of the Brazilian elite who travelled to Portugal to study medicine at the University of Coimbra. As a student, he was sentenced to five years in the convent of Rilhafoles in Lisbon by the Inquisition Court, accused of being a heretic, a naturalist and a dogmatist in a trial of faith held in 1781. As usual, he only served one year of this sentence, continuing his studies in Coimbra from 1782 to 1786, and then settling in Lisbon, where he gained a reputation as an outstanding clinician. He was appointed honorary physician to the Royal Chamber and was knighted. He became a corresponding member of the Lisbon Royal Academy of Sciences and began to collaborate regularly with that institution on matters of medicine and natural sciences.

In 1817 he moved to Brazil, accompanying Princess Consort Maria Leopoldina of Austria on her trip to Rio de Janeiro, and eventually settling in that city.

He is the author of a number of influential works in the field of medicine and political philosophy, such as: «Tratado da educação física dos meninos, para uso da nação portuguesa» the first book on paediatrics written in Portuguese and by a native of Brazil; «Elementos de Higiene ou dictames theoreticos, e practicos para conservar a saude e prolongar a vida». He was the secret author of the controversial Medicina Theologica ou súplica humilde feita a todos os senhores Confessores e Directores sobre o modo de proceder com os seus penitentes na emenda dos peccados, principalmente da lascívia, cólera e bebedice (1794), where the author draws on the most advanced medical discussions of his time to demonstrate the ineffectiveness of the moral remedies applied by theologians to combat sins, choosing the somatic field as the main cause of the passions, which is why the salvation of the soul would depend on the health of the body. He is also the author of the satirical poem - O reino da estupidez, which circulated in manuscript and was only published after his death.

For the date of death we took into consideration the Revista Trimensal do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tome V, 1843; Teófilo Braga and Inocêncio.

Referências/References:
Borba de Moraes I, 322.
Inocêncio III, 10-11, 1505.