EM QUE SE PRETENDE MOSTRAR, que impedido o Recurso Á SÉ APOSTOLICA Se Devolve  aos SENHORES BISPOS A FACULDADE DE DISPENSAR nos Impedimentos Publicos do Matrimonio, e de prover espiritualmente em todos os mais Cazos Reservados ao Papa, TODAS AS VEZES QUE ASSIM O PEDIR a publica e urgente necessidade dos subditos. Seu Autor ANTONIO PEREIRA Presbytero e Theologo Lisbonense. LISBOA, Na Officina de MIGUEL RODRIGUES, Impressor do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca. M.DCC.LXVI [1766].

In 8.º gr. de 23x17 cm. Com [xlviii], xi, [i em br.], [xlvi], 286 págs. Encadernação da época inteira de pele com nervos, rótulos e ferros a ouro em casas fechadas na lombada.

Exemplar com falta das folhas de guarda e com trabalho de traça no pé das folhas junto ao festo e nos cantos.  

As 48 páginas preliminares sem numeração contêm a dedicatória do autor aos Bispos de Portugal, as 11 páginas com numeração romana incluem um proémio e as 46 páginas sem numeração contêm as licenças, com extensas aprovações de Fr. Inácio de São Caetano; Fr. Luís do Monte Carmelo; Fr. Manuel da Ressurreição; e Fr. João Baptista de S. Caetano. As duas últimas páginas incluem - Emendas e adições. 

É a 1ª edição desta obra que foi reeditada segunda vez logo no mesmo ano, a que se seguiu uma 3ª edição publicada em 1769. O autor publicou mais duas obras sobre este tema e uma resposta a críticas publicada em Espanha. 

Obra de polémica teológica, em que o autor, ao serviço do Marquês de Pombal, defende que os Bispos não dependem do Papa e podem por isso exercer poderes que estavam reservados à Santa Sé, em especial a concessão de dispensas para casamentos, que eram muito importantes para os casamentos combinados destinados a garantir a transmissão do património das casas Nobres.  

Foram publicadas várias obras a refutar as posições do autor a que ele respondeu. As obras de autores portugueses a refutar a obra de Pereira de Figueiredo, ficaram inéditas devido à repressão Pombalina e os respectivos manuscritos podem ser consultados na BNP.   

Muito importante para estudar o projecto regalista do Marquês de Pombal, que terá querido criar uma Igreja nacional separada de Roma. Nesse sentido, entre outras medidas, interrompeu as relações com Roma, despediu compulsivamente o Núncio Apostólico e tentou que os bispos chamassem a si prerrogativas do foro papal, nomeadamente a concessão de dispensas matrimoniais devido à pressão das famílias nobres.     

O Regalismo foi uma ideologia baseada nas ideias iluministas que queria destruir a religião como uma entidade autónoma e independente submetendo os bispos e padres a um poder absoluto que não reconhecia a Igreja Católica. Continuou a ser implementada de diversas maneiras pelo regime liberal da Monarquia Constitucional e pela Primeira República. A sua influência só acabou no período posterior à estabilização do actual regime democrático em Portugal   

António Pereira de Figueiredo (Mação 1727 – Lisboa 1799) da Congregação do Oratório de Lisboa, da qual saiu em 1769 para o estado de Presbítero secular, por ordem Régia, para exercer as funções de Oficial de Línguas na Secretaria de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Foi deputado da Real Mesa Censória, sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa. Considerado um dos maiores latinistas da Europa no século passado, tornou-se célebre pelos seus escritos teológicos muitos deles em defesa da política do Marquês de Pombal. Hoje em dia é, no entanto, mais lembrado por ser o autor da segunda tradução da Bíblia em Português, que foi o texto mais usado desde o final do século XVIII até ao início do século XX.

Azevedo e Samodães, 2415, variante ou descrição errada? 

Inocêncio I, 228.