RUGENDAS. (Johann Moritz) HABITANTE DE GOYAS, QUADRO A ÓLEO PINTADO SOBRE MADEIRA.

     
 
 

Recuperar password

Livros disponiveis: 79727

English   
 
   

Clique nas imagens para aumentar.



MANUSCRITO DO SÉCULO XVIII - PROFECIAS DE GONÇALO ANES BANDARRA

Profecias saõ de Goncale anes Bandarra Çapateyro de trancoso 1603. [Manuscrito de 1731? com as Profecias do Bandarra e muitas outras do mesmo género]  

De 22,8x16,8 cm. Com [xlviii], fólios sem numeração, com os últimos 8 em branco. Encadernação moderna inteira de pergaminho rígido com o título escrito na lombada a imitar letra antiga manuscrita à pena, que foi realizada pela Invicta Livro que assinou com a sua marca com ferros a ouro, nas seixas, no pé da pasta anterior. 

Manuscrito em letra cursiva muito legível da primeira metade do século XVIII (1731) sobre papel de linho avergoado, com as sete últimas folhas em branco. A data que propomos acima baseia-se nas contas feitas na margem do fólio 27 frente que somam 1731. 

Apresenta pequenos furos nas folhas causados pela acção corrosiva da tinta ferrogálica, manchas nos cantos de alguns fólios causadas pelo uso, pequenos rasgões nas margens, restauros amadores nas primeiras duas folhas, com perda de suporte à cabeça e nas margens do primeiro fólio, o que leva à perda de texto no seu verso, que seria o título original do manuscrito do qual são apenas legíveis algumas partes e com a segundo fólio restaurado com um reforço em papel vegetal nas margens.  

Pela parte do título, em letra diferente do resto do manuscrito, legível no referido folio 1 verso: «[...] letra Redonda q mandou Joaõ de Crasto fidalgo Portugues q [...] de [...] se achou em paris de França as coais Profecias saõ de Goncale anes Bandarra Çapateyro de trancoso», o presente manuscrito poderá ser uma cópia acrescentada feita a partir de um manuscrito de D. João de Castro partidário de D. António Prior do Crato, que estava exilado, em Paris depois da ascensão de Filipe II de Espanha ao trono português como Filipe I de Portugal.   

Cópia manuscrita muito importante e valiosa para o estudo das variantes dos manuscritos que divulgarão de forma oculta esta obra que foi proibida pela Inquisição e pela censura Pombalina. Tem também elevada importância pelo facto de as profecias de Bandarra terem marcado de forma notável a cultura portuguesa, nomeadamente na tradição dos mitos messiânicos e sebastianistas nacionais. A ideia, nelas presente, de um salvador que devolvesse à pátria a sua grandeza, influenciou decisivamente a sociedade em geral e várias personalidades, como o padre António Vieira, e Fernando Pessoa e reflectiu-se, ainda, em inúmeras obras literárias e ensaísticas. 

O presente manuscrito inclui as chamadas trovas do Bandarra até fólio 11 frente, no pé deste fólio informa que se seguem as profecias que se acharam em 5 de Agosto de 1729, supostamente escritas em 1527 e 1528, acabam no fólio 14 verso, no fólio 15 verso tem uma: Copla, de santo Izidoro, em castelhano; no fólio 15 verso: Profecia de certo Religioso Napolitano na era de 1520, em prosa; no fólio 16 a 18 frente: As oytavas seguintes se acharaõ no mosteyro de Belem aos 11 de Fevereiro de 1603, na sepultura del Rei D. Manuel; no fólio 18 frente: Extase do Pe Bertholomeu; o fólio 18 verso profecias em verso castelhano de um Santo Eremita, de um cartuxo; o fólio 19 frente e verso profecias em versos sem título; no fólio 20 frente e verso - Profecia de um ourives de Braga; no resto do fólio 20 verso um - Vatìcinio que tinha o Arcebispo de Lisboa, D. Miguel de Castro; no fólio 21 - Profecia de Santa Leocádia; no fólio 22 e 23 frente - Profecia do Eremita de Alocarrate; fólio 23 frente Profecia de São Gil; nos fólios 23 verso a 25 verso - Carta de um Curioso, sobre as Trovas do Bandarra, em prosa com citações de Manuel Bocarro, Francês; no fólio 26 - Profecia de S. Gil composta por uma quintilha, e Vaticínios do Padre Anchieta em prosa; do fólio 27 frente ao fólio 40 verso - Relação do P.e Balthazar Guedes Reitor dos Orfãos, em prosa, sobre a Madre Leocádia da Conceição, religiosa do Convento de Monchique.                     

Gonçalo Anes Bandarra foi sapateiro de profissão, em Trancoso e dedicou-se à divulgação em verso de profecias de cariz messiânico. Tinha um bom conhecimento das escrituras do Antigo Testamento, do qual fazia as suas próprias interpretações, tendo composto uma série de "Trovas" falando sobre a vinda do Encoberto e o futuro de Portugal como reino universal. Por causa disso, foi acusado e processado pela Inquisição de Lisboa, por considerar que as suas Trovas continham marcas de Judaísmo, inquirido perante o Tribunal da Inquisição, foi absolvido e como tal saiu na procissão do auto-de-fé de 1541 mas foi proibido de interpretar a Bíblia ou escrever sobre assuntos da teologia. Apesar da grande aceitação de suas Trovas entre os cristão-novos, Bandara não era de ascendência judaica pois a Inquisição perdoou-lhe a pena - atendendo: «à qualidade de sua pessoa vida e costumes». Após o julgamento voltou para Trancoso, onde viria a morrer, em data incerta, provavelmente, em 1556.

As suas Trovas, em parte por conta do interesse despertado entre os cristãos-novos mas sobretudo por conta de seu sucesso após a morte de D. Sebastião, em 1578, na batalha de Alcácer-Quibir, foram incluídas no catálogo de livros proibidos, em 1581. As Trovas circularam em diversas cópias manuscritas, apesar da interdição do Santo Ofício.

Em 1603, em Paris, são publicadas pela primeira vez em edição comentada, em que são interpretadas como uma profecia do regresso do Rei D. Sebastião após o seu desaparecimento na Batalha de Alcácer-Quibir, em Agosto de 1578, com o título - «Paraphrase e concordancia de algumas profecias do Bandarra, sapateiro de Trancoso».

O reponsável pela edição e autor dos comentários foi D. João de Castro (? - 1551 - Paris depois de 1623) que era neto do famoso Vice-Rei da Índia seu homónimo, esteve na Batalha de Alcácer Quibir com o rei D. Sebastião, foi feito prisioneiro e foi, como dissemos acima, partidário de D. António Prior do Crato, exilando-se em França depois da derrota deste pretendente ao trono de Portugal. D. João de Castro tinha publicado no ano anterior uma das obras fundadoras do Sebastianismo - «Discurso da vida do sempre bem vindo et apparecido Rey Dom Sebastiam nosso senhor o Encuberto des do seu naçimënto tee o presente: Em Paris, por Martim Verac, M. D. C. II. [1602] 

Em 1642, Dom Álvaro Abranches, general da Província da Beira, mandou fazer um epitáfio para Bandarra, na Igreja de São Pedro da Vila de Trancoso, com os seguintes dizeres: "Aqui jaz Gonçaliannes Bandarra natural desta Vila que profetizou a restauração deste reino, e que havia de ser no ano de seiscentos e quarenta por el Rei D. João o quarto nosso senhor, que hoje reina, faleceu na era de mil e quinhentos e quarenta e cinco".

Em 1644, aparece uma nova impressão, a primeira integral, patrocinada por D. Vasco Luiz da Gama, conde da Vidigueira, e outros apoiantes de D. João IV na Restauração da Independência de Portugal e defendendo que o "Restaurador" seria o verdadeiro "Encoberto" profetizado nas Trovas a edição tem o seguinte título: Trovas do Bandarra apuradas e impressas por ordem de hum grande senhor de Portugal. Offerecidas aos verdadeiros portuguezes, devotos do Encuberto. Em Nantes, por Guilhelmo de Monnier 1644.

Em 3 de Novembro de 1665, foi novamente proibida pela Inquisição, que divulgou um édito proibindo a sua circulação. Pela mesma época o referido Tribunal prendeu nos seus cárceres de Coimbra o Padre António Vieira por ter escrito um comentário às Profecias do Bandarra e que adaptava a sua interpretação ao período posterior à morte de D. João IV.  

No século XVIII, novos corpos são adicionados às Trovas, supostamente descobertos em Trancoso. No período do governo do Marquês de Pombal, na dedução Cronológica e Analítica, obra escrita pelo próprio Marquês contra os Jesuítas, em 1768, a existência do Bandarra é negada, a autoria das Profecias é atribuida ao Padre António Vieira e a Real Mesa Censória, por edital de 10 de Junho do mesmo ano, proíbe mais uma vez a sua circulação assim como interdita outra série de textos proféticos portugueses, acusando-os de serem maquinações dos jesuítas.

Apesar das censuras, as Trovas continuaram a circular e, em 1809, no período das Invasões Napoleónicas, saiu uma nova edição. Na sequência dessa edição, que ficou conhecida como de Barcelona, ainda que impressa em Londres, várias outras saíram num ressurgimento do sebastianismo motivado pelas crises política e social existentes em Portugal na primeira metade do século XIX. Nesse período, saem novas edições em 1810, 1815, 1822, 1823, 1852. 

O Sebastianismo durante o século XIX passou do domínio político para os domínios culturais e literários e tornou-se uma corrente de pensamento importante com reinterpretações inovadoras no século XX, nomeadamente pelos poetas dos grupos da águia e da Nação Portuguesa, como Afonso Lopes Vieira, Mário Beirão, António Sardinha e em especial por Teixeira de Pascoais e Fernando Pessoa, que no seu livro, Mensagem, inclui um poema sobre o Bandarra. Posteriormente José Régio escreveu o poema dramático El-Rei D. Sebastião.     

Jacinto Prado Coelho. Dom Sebastião e o Sebastianismo in Dicionário das Literaturas Portuguesa e Galega. Livraria Figueirinhas. Porto.1960 p. 754 a 756. 

Inocêncio III, 151-155 e IX, 426-427 sobre o Bandarra. III, 347-348 sobre D. João de Castro. 


Temáticas

Referência: 2012PG021
Local: M-9-F-56


Caixa de sugestões
A sua opinião é importante para nós.
Se encontrou um preço incorrecto, um erro ou um problema técnico nesta página, por favor avise-nos.
Caixa de sugestões
 
Multibanco PayPal MasterCard Visa American Express

Serviços

AVALIAÇÕES E COMPRA

ORGANIZAÇÃO DE ARQUIVOS

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

free counters